Para registro:
Relatório de Viagem: Participação na III Missão Brasil – Uruguai - novembro/2008
artigo original: http://www.aptaregional.sp.gov.br/images_editor/artigos/relat_viagem_ovinos.pdf
Cristina Maria Pacheco Barbosa
Zootecnista, Dra., Pesquisadora Científica da UPD de Itapetininga do Pólo Regional do
Sudoeste Paulista/APTA
cristina@apta.sp.gov.br
A III Missão Brasil–Uruguai foi programada pelo Grupo de Extensão da Pesquisa em
Ovinos e Caprinos – GEPOC com as associações ACCOMIG (Associação de Criadores
de Caprinos e Ovinos de Minas Gerais) e ASPACO (Associação Paulista de Criadores
de Ovinos), com apoio institucional da ARCO (Associação Brasileira de Criadores de
Ovinos).
Esta terceira versão da Missão Brasil-Uruguai foi composta por um grupo de 18
participantes – técnicos, gestores e criadores brasileiros, acompanhados pelos
presidentes das associações ACCOMIG, ASPACO, da Sociedad de Criadores de
Frisona Milchschaf del Uruguay e por técnicos do GEPOC.
A programação buscou apresentar aos criadores e técnicos brasileiros aspectos
relevantes nos sistemas de produção e projetos uruguaios que podem servir de modelos
ao aprimoramento da produção integrada de cordeiros para carne e leite, e teve como
principais objetivos:
a) mostrar como os produtores uruguaios se relacionam entre si, entre as instituições
governamentais e com as universidades;
b) conhecer em profundidade o sistema de produção do Uruguai, vinculado ao
Programa Cordeiro Pesado, como modelo para melhorar a competitividade brasileira no
segmento de ovinos e caprinos;c) conhecer a raça Frisona Milchschaf e seus cruzamentos como uma das opções
possíveis para obtenção de mais cordeiros, mais pesados e mais precoces em
cruzamento absorvente e terminal com outras raças, inclusive as deslanadas.
Relatório das Visitas
Primeiro dia
Visita ao Secretariado Uruguayo de La Lana (SUL) no “Centro de Investigación y
Experimentacion Dr. Allejandro Gallinal”, situado em Cerro Colorado, a 180 km de
Montevidéu. O SUL, entidade da ovinocultura uruguaia, é uma organização privada, de
interesse público, sem fins lucrativos, dirigida e financiada pelos produtores de ovinos.
Sua missão é promover o desenvolvimento sustentável da produção ovina no país e
maximizar o resultado econômico de sua exploração.
O tema dessa visitação foi o “PROGRAMA CORDEIRO PESADO S.U.L.”. Os
técnicos e pesquisadores do SUL apresentaram uma descrição completa da ovinocultura
de corte no Uruguai, o papel e importância do SUL na cadeia produtiva de carne ovina
uruguaia, e o manejo reprodutivo adotado para a produção de cordeiros.
Após a palestra, almoço com parrilla de carne de cordeiro da raça Corriedale do
Programa Cordeiro Pesado e, a seguir, visita à Estação de Produção, monitorada por
técnicos do SUL, para conhecer o rebanho, o trabalho dos cães pastores e classificação
de carcaças/escore corporal.O Programa Cordeiro Pesado S.U.L.
A premissa básica do Projeto Cordeiro Pesado é produzir cordeiros pesados com
animais jovens a partir dos sistemas uruguaios basicamente laneiros, conquistando dessa
forma uma maior diversificação da produção ovina. Melhorando a produção de carne de
cordeiro sem abandonar a produção da lã.
O programa proporcionou o reconhecimento da qualidade da carne ovina uruguaia em
mercados de alta exigência. Seu resultado é um produto diferenciado e padronizado, a
partir dos requerimentos demandados pela indústria frigorífica e um controle de
qualidade realizado na propriedade.
Para alcançar esse resultado desenvolveram-se sistemas especializados em carne ovina,
divididos em criadores (cria e recria) e terminadores (terminação), o que otimizou e
equilibrou a disponibilidade de carne de cordeiro de qualidade para a indústria ao longo
do ano. Antes desse programa o que era feito é que em épocas de sazonalidade se
vendiam as matrizes de descarte e/ou os capões (machos capados de mais ou menos 4
anos de idade para a produção de lã). Assim, além de manter a qualidade e volume da
produção de lã, os rebanhos uruguaios estão potencializando a produção de carne ovina
de qualidade.
Protocolo do Programa Cordeiro Pesado
Os Cordeiros Pesados tipo S.U.L. devem apresentar características determinadas pelas
indústrias frigoríficas no momento de realizar-se o controle de qualidade:
Raças: todas as raças que são criadas no Uruguai;
Idade: os animais devem ser cordeiros, portanto, não podem ter ainda os dentes
permanentes, que começam a aparecer entre os 13 e 14 meses de idade;
Sexo: machos e fêmeas;
Machos inteiros até 7 meses de idade ou acima de 7 meses castrados ou criptorquídeos.
Lã: os cordeiros devem chegar ao abate tosquiados com um mínimo de 1 cm de lã e no
máximo 3 cm;Peso Vivo: peso mínimo: 34 kg e peso máximo: 45 kg (pesados na propriedade no
momento do Controle de Qualidade).
Controle de Qualidade
Os cordeiros que participam do programa são inspecionados previamente no embarque
para o frigorífico por técnicos do SUL, verificando-se o cumprimento dos requisitos
previamente acordados com as indústrias frigoríficas atuantes.
O controle de qualidade se realiza na propriedade sendo os produtores que determinam
a data de realização com os técnicos do SUL. Vale ressaltar que o controle é individual,
e não a média do grupo. A avaliação é realizada em todos os cordeiros no momento da
organização do embarque para o frigorífico. Isso demonstra ainda mais a importância do
controle de qualidade individual.
Cordeiro que recebeu o carimbo S está pronto para o abate e segue as características do protocolo de
Controle de Qualidade do Programa “Cordeiro Pesado”.
Lote de Matrizes com cordeiros ao pé em
pastagensLote de “Cordeiro Pesado” terminados em
pastagens
Segundo dia
Pela manhã visitamos a estação Las Brujas do INIA (Instituto Nacional de Investigación
Agropecuária), situada em Canelones a 30 km de Montevidéu. Lá participamos de uma
palestra dos técnicos do INIA sobre o trabalho da instituição com a raça Frisona
Milchschaf para a produção de cordeiros e leite, em modelos de produção por pequenos
agricultores de base familiar e comerciais e, depois fizemos visita à estação
experimental para conhecer os padrões da raça, o sistema de produção a campo e os
cruzamentos com outras raças. Também conhecemos o sistema de produção do Queijo
Cerrillano.
As características do queijo Cerrillano são as de ser um queijo curado, elaborado à base
de leite puro de ovelha da raça Frisona Milchschaf, em forma artesanal ou semiartesanal, com fermentos naturais, maturado em câmeras durante um mínimo de 90 a
120 dias. Ele é produzido nas localidades de Cerillos, Las Brujas, Rincón del Colorado,
El Colorado, Cuatro Piedras, Parador Tajes e redondezas. Este queijo é produzido em
sistemas de produção familiares, onde as pastagens são a base alimentar das ovelhas de
altíssima qualidade em solos de elevada fertilidade.
Queijo Cerrillano: Denominação de Origem GeográficaNo período da tarde, visitamos as propriedades produtoras de ovelhas da Raça Frisona
Milschschaf que estão vinculadas ao “Projeto Fondo Rotativo”, baseado no sistema de
fomento de 10 animais por família cadastrada ao programa. Orientados pelos técnicos e
pesquisadores do INIA, o produtor deve devolver no prazo de cinco anos, seis
para cada cinco ventres recebido, produzidos a partir das matrizes recebidas.
Dessa forma, o Fundo cresce e aumenta o número total de ventres disponíveis para ser
distribuídos a novos interessados. Com este mecanismo, ao longo de poucos anos, o
número de ventres que pertencem ao “Fondo Rotatório” tem aumentado
expressivamente.
Impressionou-nos a força da família na condução da propriedade rural e a fidelidade ao
modelo cooperativista para comercializar a produção. É muito comum no Uruguai o uso
de cães pastores, e há escassez de mão de obra contratada, sendo por isso quase que
exclusivamente utilizada a mão de obra familiar.
Palestra sobre Produção Ovina em Pequena Escala no UruguaiVisitas às propriedades que participam do “Fondo Rotativo” do INIA Las Brujas
Terceiro dia
Neste dia visitamos o laticínio Lapataia, em Punta del Leste, que produz queijos com
leite de cabra, vaca e ovelha, onde fizemos degustação, e o Centro de Produção de Leite
de Ovelhas.
No período da tarde estivemos na Estação de Produção de Leite e Queijo de Ovelhas da
Facultad Nacional de Veterinária del Uruguay, em Migues, a 120 km de Montevidéu,
para uma apresentação do sistema de produção de leite com rebanho de corte, e
acompanhamento da ordenha, seguido de degustação de queijos produzidos com o leite
de ovelha.
Quarta Visita
Na visita à Lanera Piedra Alta, que agrega valor à lã das ovelhas, pudemos ver as
modernas instalações do beneficiamento da lã uruguaia. A Lanera Piedra Alta é uma
cooperativa de beneficiamento da lã ovina, mas também tem como missão:
“Liderar a coordenação de um complexo de produção ovina, que integra o produtor à
cadeia agroindustrial, fornecendo soluções globais (comerciais, financeiros,
tecnológicos e de informação) para melhorar o nível sócio-econômico dos
produtores dentro do sistema de cooperativas”.No período da tarde visitamos o rebanho comercial de ovelhas Frisona Milchschaf,
criadas a campo para corte, e participamos da apresentação do sistema pelo Professor
Aposentado da Facultad de Veterinária do Uruguai, Especialista em Ovinos pela
Maison Alfort e Lyon, França, Prof. Dr. Oscar Latourrete. O Professor Oscar é hoje
Presidente da Sociedad de Criadores Frisona Milchschaf del Uruguay.
Professor Aposentado e Presidente da Sociedad de Criadores Frisona Milchschaf del
Uruguay e seu rebanho na região de Florida, Uruguai.
Considerações Finais
A III Missão Brasil-Uruguai em nenhum momento teve como objetivo copiar o modelo
de produção ovina dos uruguaios. O que temos de trazer como aprendizado está
relacionado ao modelo organizacional da cadeia produtiva. A consciência dos
produtores que a união, ao contrário do individualismo, é o caminho mais importante e
rentável é extremamente relevante para nossa cadeia produtiva. Quando atingirmos essa
consciência poderemos dizer que a nossa atividade estará organizada.
Portanto, nos atraiu muito a atenção a união dos produtores e empresas, traduzida em
objetivos comuns e apoio mútuo, alcançando, com isso uma gestão otimizada dos seus
estabelecimentos. As Cooperativas e Associações apresentam políticas e ações,
dando prioridade à continuidade dos negócios, sendo prudente na tomada de riscos. Existe uma busca constante por novos caminhos e soluções de gerenciamento da cadeia,
com vistas a obter segurança nas vendas e recebimento por parte dos produtores de sua
produção comercializada através das cooperativas. Esse conceito envolve tanto os
processos que ocorrem ao longo da cadeia produtiva como a definição de novos
produtos, de acordo com sinais recebidos a partir do mercado.
http://www.aptaregional.sp.gov.br/images_editor/artigos/relat_viagem_ovinos.pdf
Nenhum comentário:
Postar um comentário