Eimeriose em pequenos ruminantes
Por André Maciel Crespilho, MyPoint - postado há 1 dia atrás
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A eimeriose corresponde a uma doença parasitária que acomete ovinos e caprinos, causando graves prejuízos, especialmente em animais jovens, tendo grande importância econômica na exploração caprina leiteira e em ovinos mantidos em confinamento (VIEIRA et al., 2002). A doença, também conhecida como Coccidiose, é causada por protozoários do gênero Eimeria spp., representando um sério problema na produção de ovinos e caprinos em virtude da alta morbidade (grande número de animais podem se tornar portadores da doença) e das alterações causadas por esses parasitas ao organismo dos hospedeiros.
Em virtude da grande importância e impacto na produção animal, o objetivo deste radar técnico é apresentar as principais particularidades da Eimeriose em pequenos ruminantes.
O parasita
De acordo com revisões de Vieira (2002), as Eimerias são parasitas classificados como monoxenos, pois realizam seu ciclo de vida em um único hospedeiro. Seu desenvolvimento se completa em três fases distintas de desenvolvimento: a fase de esporulação (que ocorre no meio ambiente), a fase merogônica e gametogônica, as duas últimas ocorrendo nos tecidos dos animais após a ingestão da forma infectante do parasita: os oocistos esporulados (Figura 1).
Os oocistos correspondem ao produto da reprodução sexuada dos parasitas que são eliminados através das fezes, servindo de fonte de infecção e propagação para todo o rebanho. Após a ingestão dos oocistos ocorre a liberação no estômago dos chamados esporozoítos, que correspondem às formas infectantes que invadem a mucosa intestinal.
O parasita utiliza dois mecanismos principais para sua multiplicação: a reprodução assexuada (leva a formação dos chamados esquizontes), que garante a proliferação e manutenção do protozoário no intestino animal; e a reprodução sexuada, que leva a formação de novos oocistos que serão eliminados através das fezes, garantindo a continuidade do ciclo biológico.
Figura 1 - : Exemplificação do ciclo de vida da Eimeria spp., ilustrando a fase de vida fora do organismo hospedeiro (oocisto infectante liberado através das fezes) e as fases de reprodução assexuada e sexuada do parasita. *Disponível em www.scribs.com.pt.
Embora exista uma estreita semelhança morfológica entre as diferentes espécies de Eimeria (VIEIRA, 2002), cada parasito habita segmentos distintos do intestino de caprinos e ovinos, sendo específicos para cada espécie animal (KRUININGEN, 1998). Sendo assim, espécies de Eimerias que parasitam ovinos, geralmente possuem pouca importância como causadoras de doença em caprinos. Nesse sentido, de acordo com levantamento epidemiológico conduzido por Hassum e Menezes et al., (2005), espécies diferentes de Eimeria podem ser isoladas a partir de amostras de fezes de animais criados em condições nacionais, demonstrando a grande variabilidade do coccídio e a especificidade no parasitismo para ovinos e caprinos (Tabela 1).
A doença possui uma alta incidência em rebanhos de todo o mundo, estando amplamente difundida nos diferentes sistemas de produção animal, acometendo ovinos e caprinos de todas as idades (Tabela 2).
Tabela 1 - Frequência média (%) de isolamento de Eimeria em pequenos ruminantes, de acordo com a espécie infectante e com a categoria produtiva, em duas regiões distintas do Estado do Rio de Janeiro.
Tabela 2 - Número de animais examinados e infectados por Eimeria, de acordo com a categoria produtiva.
A doença
A maioria das espécies de Eimeria infectam células epiteliais das vilosidades e das criptas intestinais, podendo se localizar nos vasos linfáticos locais. Microscopicamente, a Eimeriose se caracteriza por necrose do epitélio das vilosidades ou das criptas intestinais, hiperemia e resposta inflamatória local, que pode levar à atrofia das vilosidades e hiperplasia da mucosa (KRUININGEN, 1998).
Em virtude do mecanismo de ação do parasita (lesão das vilosidades intestinais responsáveis pela absorção dos nutrientes da dieta), os principais sinais clínicos associados à Eimeriose são o déficit de crescimento e a diarreia (KRUININGEN, 1998), que muitas vezes podem ser confundidos ou associados às verminoses convencionais, o que dificulta o diagnóstico. Geralmente os ovinos e caprinos infectados apresentam diarreia (muitas vezes contendo muco ou sangue) acompanhada por desidratação, anemia, baixa conversão alimentar, baixo ganho de peso médio diário, emagrecimento progressivo, fraqueza ou morte, que ocorre principalmente em animais jovens.
Geralmente quando um pequeno número de coccídeos parasita o intestino de animais saudáveis em crescimento, não se observam sinais clínicos da doença. No entanto, quando os animais são mantidos em condições de superlotação, manejo nutricional e sanitário inadequado, pode ocorrer um alto índice de transmissão fecal-oral e a manifestação da doença em sua forma clínica, que em muitas situações pode ser fatal.
Diagnóstico e Tratamento
O diagnóstico da Eimeriose deve ser realizado através do conjunto de informações colhidas durante a anamnese do rebanho, levando-se em consideração o manejo dos animais, sistema de criação, sinais clínicos e exame coproparasitológico, que permite a identificação de oocistos (Figura 2) a partir de amostras de fezes (Cantelli et al., 2007).
A eficiência do tratamento depende do diagnóstico e de seu início rápido, evitando que o parasitismo atinja um grande número de animais na propriedade. Drogas como as sulfas, amprólio, decoquinato, antibióticos ionofóros (monensina, salinomicina, lasalocida) e toltrazuril correspondem aos fármacos comumente utilizados para o tratamento e/ou prevenção dos quadros de Eimeriose em pequenos ruminantes. Terapia de suporte e manutenção (uso de soluções eletrolíticas como o Ringer com Lactato de Sódio) deve ser instituída para os animais que apresentarem quadros de diarréia profusa associada à desidratação.
Figura 2 - Oocistos de Eimeria spp. O exame laboratorial das fezes representa a principal forma de diagnóstico da doença em ovinos e caprinos. Disponível em: http://www.apacapacas.com
Como o manejo do rebanho, estresse, o estado fisiológico dos hospedeiros e as condições ambientais exercem grande influência sobre a virulência dos oocistos das espécies de Eimeria (HASSUM e Menezes et al., 2005), a prevenção da Eimeriose é realizada através da adoção de medidas sanitárias e pelo uso preventivo de drogas anticoccídicas, que eventualmente podem ser incorporadas à água ou ração.
Medidas simples como a higiene de comedouros e bebedouros, remoção sistemática das fezes e/ou troca da cama, formação de lotes homogêneos com animais de mesma categoria ou faixa etária e adequada lotação animal por unidade de manejo garantem a diminuição do risco de ingestão dos oocistos de Eimeria e interrupção do ciclo biológico do parasita.
fonte: http://www.farmpoint.com.br/radares-tecnicos/sanidade/eimeriose-em-pequenos-ruminantes-71314n.aspx
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