Confinamento: desempenho pré-desmame de cordeiros puros e cruzados Suffolk e Santa Inês - Parte I Maria Angela Machado Fernandes
Médica Veterinária e Mestre em Ciências Veterinárias
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Alda Lúcia Gomes Monteiro
Professora Depto Zootecnia UFPR
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Carina Simionato de Barros
Médica veterinária, Doutoranda FMVZ-USP
Um sistema eficiente de produção de carne ovina é reflexo da prolificidade materna, dos cruzamentos entre raças, do potencial de crescimento dos cordeiros, do sistema de produção, da eficiência reprodutiva e do rendimento em carne.
A raça deslanada Santa Inês vem apresentando considerável demanda no Sudeste do Brasil, devido à capacidade de adaptação e eficiência reprodutiva e por não apresentar comportamento estacional (SANTOS et al., 2003). No Estado do Paraná, também se observa grande interesse pela mesma, devido à baixa susceptibilidade às infecções parasitárias. Porém, a literatura cita (CUNHA et al., 2001) que, em sistemas intensivos, os cordeiros Santa Inês têm apresentado desempenho e características das carcaças inferiores às tradicionais raças de corte.
Figura 1 - Fêmeas da raça Santa Inês (LAPOC/ UFPR).
Nas regiões Sul e Sudeste do Paraná, a raça Suffolk para carne está presente em grande número de propriedades. Assim, o uso destes reprodutores de corte sobre ovelhas Santa Inês pode resultar em maior potencial para ganho de peso, reduzindo o tempo para abate e, assim, o custo de produção dos cordeiros.
Figura 1 - Cordeiros da raça Suffolk. Fonte: http://www.highfieldhousefarm.co.uk/suffolk-sheep-c12.html
Contudo, deve-se ter em mente que o fato de se realizar o cruzamento com raças especializadas para produção de carne, não implica necessariamente em obtenção de produto melhor. Para que ocorra a expressão do potencial do cruzamento faz-se necessário bom manejo sanitário e nutricional.
No artigo desse mês iremos apresentar um trabalho que foi realizado no Laboratório de Produção e Pesquisa de Ovinos e Caprinos (LAPOC), na Fazenda Experimental da Universidade Federal do Paraná, em Curitiba, com o objetivo de avaliar o desenvolvimento ponderal de cordeiros confinados resultantes dos seguintes cruzamentos:
(1) carneiro Suffolk e ovelhas Suffolk: cordeiros Suffolk;
(2) carneiro Suffolk e ovelhas Santa Inês: cordeiros Suffolk X Santa Inês;
(3) carneiro Santa Inês e ovelhas Suffolk: cordeiros Santa Inês X Suffolk;
(4) carneiro e ovelhas Santa Inês: cordeiros Santa Inês.
Nesta primeira parte do artigo iremos discutir o efeito dos grupos genéticos acima sobre o desempenho dos cordeiros na fase pré-desmame.
Manejo dos Animais
Após o nascimento, os cordeiros foram pesados e identificados e aos desmame foram vacinados contra as clostridioses.
Desde a 1ª semana de vida, os animais tinham à disposição dieta composta de ração farelada (20% PB) e silagem pré-secada de aveia em creep feeding. Durante o período de aleitamento, as ovelhas e os cordeiros foram mantidos em aprisco suspenso ripado. As ovelhas recebiam silagem de milho "ad libitum" e 500 g de ração concentrada (17,2% PB) por dia. (Tabela 1)
Em idade pré-estabelecida de 45 dias, os cordeiros foram desmamados, pesados e everminados pela primeira vez. Foram então confinados em baias coletivas de 6,3 m x 4,0 m, com piso ripado suspenso, até atingirem o peso vivo de abate de 30-32 kg.
Resultados obtidos
Na tabela 02 são apresentadas as médias estimadas e os desvios-padrão dos pesos ao nascer e ao desmame e o ganho médio diário pré-desmame de cada grupo genético. Os cordeiros da raça Suffolk apresentaram peso médio ao nascer superior (P<0,01) aos demais grupos genéticos. Lembre-se que o peso ao nascimento está diretamente relacionado a fatores de ordem genética!
Observe na tabela acima que os pesos ao nascer dos cordeiros Santa Inês (3,637 kg) e dos cordeiros dos grupos carneiro Suffolk X ovelha Santa Inês (4,020 kg) e carneiro Santa Inês X ovelha Suffolk (4,333 kg) não diferiram entre si.
Este resultado obtido não concorda com o relatado na literatura nacional para cruzamentos entre reprodutores lanados com ovelhas deslanadas SRD no Nordeste Brasileiro, onde os cordeiros mestiços lanados apresentaram peso ao nascimento superior aos deslanados (BARROS et al., 1999; FURUSHO-GARCIA et al., 2004; MACHADO et al., 1999). Entretanto, o peso ao nascimento (3,6 a 4,3 kg) observado no presente trabalho é superior ao relatado na literatura, em que são descritos valores de 3,22 kg para cordeiros mestiços Santa Inês em parições em confinamento (MACHADO et al., 1999).
Observe na Tabela 2 que houve efeito do grupo genético sobre o peso ao desmame e o ganho médio diário do nascimento ao desmame. No entanto, não houve diferença entre os dois grupos cruzados quanto às variáveis citadas. Os animais da raça Santa Inês não apresentaram diferença no peso ao desmame (11,450 kg) em comparação aos filhos de carneiros Suffolk e ovelhas Santa Inês (14,222 kg), mas diferiram dos cruzados Santa Inês X Suffolk (15,240 kg), mostrando a influência da raça materna nesta característica. As matrizes também tiveram efeito sobre o ganho corporal nessa fase pré-desmame: cordeiros Santa Inês X Suffolk ganharam mais peso nessa fase que os Santa Inês puros.
RODA et al. (1983) obtiveram aumentos significativos nos pesos ao nascer e ao desmame, com animais resultantes dos cruzamentos de carneiros Suffolk sobre fêmeas deslanadas em relação aos puros deslanados, o que não foi observado no presente trabalho.
Neste trabalho foram observadas correlações positivas entre os pesos das mães (ao parto e ao desmame) e o desempenho dos cordeiros nas fases pré e pós desmame confirmando a importância da condição corporal das ovelhas ao parto e a importância da lactação para o desempenho dos cordeiros.
Na segunda parte do artigo iremos apresentar os resultados obtidos na fase pós-desmame (do desmame até o abate) e as conclusões sobre os resultados obtidos.
fonte: http://www.farmpoint.com.br/?actA=7&areaID=3&secaoID=32¬iciaID=66574
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