A importância do cruzamento entre ovinos de raças de carne x raça leiteira na produção de cordeiros de corte - Parte I Letieri Griebler
Zootecnista e Mestranda em Produção Animal
Com as mudanças ocorridas na ovinocultura brasileira, a partir da década de 90, quando a produção de lã deixou de ter tanta importância no mercado mundial pela entrada dos produtos têxtil, a solução dos produtores foi buscar outras alternativas para quem sempre gostou da atividade de "produzir ovinos".
A partir desta mudança, a tendência atual da ovinocultura é a produção de carne, principalmente de animais jovens, com carcaças de alta deposição muscular e quantidade de gordura o suficiente para manter as características sensoriais da carne. Segundo a preferência do consumidor, procura-se produzir animais jovens de até 150 dias, com peso vivo de 28 a 30 kg e carcaças de tamanho moderado (12 a 14 kg), afirma Siqueira (1999).
Pesquisas recentes na linha de produção de carne de cordeiro visam selecionar matrizes com boa produção de leite, ou raças com aptidão leiteira cruzadas com raças de aptidão carne, obtendo neste cruzamento, fêmeas F1 com maior produção de leite, pela adição da característica produtiva da raça no cruzamento.
O leite produzido pelas ovelhas é, nas primeiras três semanas de lactação, a principal fonte de alimentação para os cordeiros. Este fornece nutrientes necessários durante um período em que o potencial de crescimento dos cordeiros é mais elevado, segundo Pires et al., (2000).
Nos sistemas de produção em que há disponibilidade de alimento em quantidade e qualidade para as matrizes, o desmame de seus cordeiros não é necessário, já que os mesmos podem alcançar o peso de abate aos três meses de idade ou até antes deste período. Para chegar neste objetivo, estas fêmeas devem apresentar uma produção de leite considerável, pois irá refletir diretamente no desempenho de seus cordeiros, justificando assim a importância da introdução de raças leiteiras no rebanho.
Este tipo de seleção e cruzamento para a produção de matrizes com maior desempenho leiteiro foi realizado no Laboratório de Ovinocultura da Universidade Federal de Santa Maria, no ano de 2007. A introdução do material genético da raça Lacaune (raça com aptidão leiteira), cedido pela Cabanha Dedo Verde do município de Viamão-RS, veio colaborar nesta linha de pesquisa.
As matrizes do Lab. de Ovinos da UFSM são oriundas do cruzamento das raças Texel e Ile de France. Estas fêmeas foram inseminadas com sêmen de reprodutores Lacaune, para obtenção das fêmeas F1 (½ sangue Lacaune + ½ sangue raças de carne), figura 1.
Figura 1 - Fêmeas F1, do cruzamento com as raças de carne x Lacaune.
Em 2009, realizou-se a primeira avaliação destas matrizes F1, com o objetivo de determinar a produção e a composição do leite destas ovelhas primíparas, de parto simples ou duplo, e o desempenho de seus cordeiros mantidos ao pé-da-mãe até o peso de abate de 30 kg de peso corporal após jejum, em pastagem cultivada de azevém anual (Lolium multiflorum Lam.)
Animais experimentais e avaliações
Foram avaliadas dezoito ovelhas F1 do cruzamento entre as raças Lacaune X raças de carne, primíparas (figura 2), acasaladas com reprodutor da raça Suffolk. O objetivo da utilização deste reprodutor foi a busca de um maior potencial de crescimento dos cordeiros.
Figura 2 - Primíparas F1.
A produção de leite destas ovelhas foi realizada durante oito semanas, com a permanência do cordeiro ao pé-da-mãe, segundo metodologia proposta por Susin et al.(1995). As ovelhas foram esgotadas e ordenhadas manualmente (após três horas da separação dos cordeiros), com auxilio 1UI (unidade internacional) de ocitocina aplicada por via intramuscular.
Na tabela 1 estão os pontos máximos de produção de leite, que foram de 3,0 kg/dia nas ovelhas que tiveram cordeiros gêmeos, já as ovelhas de parto simples tiveram uma produção de 2,6 kg/dia. Para a produção total de leite nas oito semanas de avaliação, as ovelhas de parto duplo produziram em média 2,5 kg/dia, enquanto que as de parto simples tiveram uma produção total de 2,3 kg leite/dia. Esta diferença de produção de leite é explicado pela habilidade dos cordeiros gêmeos em esvaziar completamente as glândulas mamárias no início da lactação.
Tabela 1 - Pico e produção total de leite (kg/dia) de oito semanas de lactação de ovelhas do cruzamento entre as raças Texel x Ile de France x Lacaune (F1), amamentando cordeiros de parto duplo ou simples.
A composição do leite ovino apresenta algumas diferenças na sua constituição em relação ao leite das demais espécies, principalmente por possuir elementos mais ricos em sua composição (Brito, 2004). Na tabela 2, estão os valores médios da composição do leite das ovelhas F1, e pode-se observar diferença nos teores protéicos e de lactose entre os tipos de parto. Os teores de proteína são inversamente proporcional à quantidade de leite produzido, sendo maior ou mais concentrado (teor de proteína) nas ovelhas de parto simples, que tiveram uma produção de leite inferior que as de parto duplo.
Tabela 2 - Valores médios do teor de proteína (%), teor de gordura (%), teor de lactose (%), densidade e acidez (°Dornic) entre os tipos de parto.
O desempenho dos cordeiros mantidos ao pé-da-mãe em pastagem foram de 0,394 kg/dia para os cordeiros de parto simples e 0,292 kg/dia para os cordeiros gemelares. Esta diferença de ganho de peso entre os tipos de parto explica-se pela disponibilidade de leite não ser igual para os cordeiros, pois as ovelhas de partos gemelares não produzem o dobro de leite que as ovelhas de parto simples, portanto a quantidade de leite é menor para os gêmeos. Além disso, a influência do teor de proteína, que foi maior nas ovelhas de parto simples, pode ter afetado o desempenho deste cordeiros.
A disponibilidade de leite ao cordeiro até o peso ideal de abate (30 kg de peso corporal em jejum), levaram a uma média de 88 dias ao abate. Esta média poderá ser reduzida em 15 dias quando o peso de abate for de 28 kg de peso corporal em jejum.
Tabela 3 - Médias de ganho médio diário (g/dia), peso de abate (kg de peso corporal com jejum) e idade de abate (dias) de cordeiros de parto duplo e simples mantidos em pastagem ao pé-da-mãe.
Vale salientar, que a dieta disponível para estas fêmeas F1, seja em quantidade e também em qualidade, suprindo suas exigências, pois os altos requerimentos nutricionais para a produção de leite e mantença são maiores no período de lactação. Portanto, o acompanhamento das reservais corporais destas ovelhas F1 deve ser mais rigoroso, para que as mesmas possam expressar todo o seu potencial produtivo.
O experimento demonstra a importância da introdução de raças com maior propensão a produção de leite no cruzamento de raças com aptidão para produção de carne, sem a necessidade do desmame de seus cordeiros, obtendo maior desempenho destes animais e na conseqüente redução de dias para atingir o peso adequado de abate.
fonte:
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO SOBRE OVINOS LEITEIROS
E PRODUÇÃO DE CORDEIROS
- Tatiana Wommer
link: http://w3.ufsm.br/ppgz/conteudo/Defesas/Dissertacoes/TatianaPfullerWommer.pdf
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